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Muitos médicos na universidade, poucos médicos na saúde pública

Condições salariais e de trabalho estão entre os principais motivos

Data de publicação: Terça, 05/08/2014, 14:43h.

Muitos médicos na universidade, poucos médicos na saúde pública

 

Mesmo com 250 novos médicos formados todos os anos em Ribeirão Preto, o sistema de saúde pública ainda sofre com a falta de especialidades médicas, como pediatria, clínica média e psiquiatria. A explicação: a falta de interesse na carreira pública. 

Para o delegado regional do Cremesp (Conselho Regional de Medicina) Eduardo Bin, residentes e estudantes ouvidos pela reportagem, não faltam profissionais no mercado, mas existe uma mudança de perfil dos médicos formados. “O médico está buscando cada vez mais se especializar, isso é um reflexo da má remuneração da rede pública, além disso, só 20% desse número de formados fica em Ribeirão para fazer residência, porque são de outras cidades e vieram para cá para estudar”, afirma.
 
É o caso do residente de clínica média do Hospital das Clínicas Mateus Gomes. Ele saiu de Chaval, no Ceará, para estudar em Ribeirão e quer voltar para atuar em Fortaleza no futuro. “O que me deixa apreensivo de trabalhar no sistema público é que, com a troca de prefeitos, você acabe sendo descartado e perde todo o vínculo que você construiu ao longo daquele tempo com aquele povo. Quanto mais especializado você é, mais desejado pelo mercado você se torna”, destaca.
 
O estudante do sexto ano de medicina da USP, Heric Kobayashi, diz que as especialidades são cíclicas. “Na década de 1980 havia muitos pediatras no mercado, hoje a procura de especialidade está focada nas áreas mais rentáveis", pontua.
 
Para Kobayashi, não existe falta de médicos na cidade. “O acesso do paciente ao sistema é que poderia ser facilitado, principalmente na questão da atenção básica. Vejo uma certa desorganização nesse aspecto”, diz.
 
Outras áreas

O presidente da Associação dos Médicos de Ribeirão Preto, Lucas Agra, também defende o aumento de especializações em outras áreas da medicina. “A residência para clínica médica continua sendo uma das mais disputadas e com um grande número de inscritos, só que esses profissionais prolongam a especialização para alguma outra área [oncologia, cardiologia, nefrologia], também para fugir daquele cenário caótico dos atendimentos de emergência que nossos governantes não se interessam em melhorar”, afirma.
 
Valor pago por prefeituras não agrada médicos
 
O médico Ricardo Miranda Lessa, coordenador do curso de medicina da Barão de Mauá, diz que não faltam médicos para atender o mercado, tanto público, quanto privado e que faltam melhores condições de trabalho. 
 
Segundo ele, os médicos recebem o mesmo que outro profissional que optou por investir em outras áreas de atuação. “Para se ter uma ideia da hora de trabalho, o valor bruto de um médico com especialização, que requer no mínimo nove anos (seis faculdade e três de residência) de investimentos em formação, gira em torno de R$ 30 a R$ 50 nos setores públicos valor igual ou aquém de um profissional de nível técnico ou outro segmento. Esse cenário, agravado pela falta de investimento, na saúde acaba conduzindo os médicos ao setor privado”, explica.
 
No entanto, Lessa deixa claro que o fator decisivo não é o salário, mas sim a estrutura para que o profissional possa trabalhar. Procurada, a Secretaria de Saúde não se manifestou.


Fonte: Jornal A Cidade



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