Data de publicação: Terça, 17/12/2013, 11:07h.
O presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso, comenta nesta entrevista o atual momento da saúde brasileira, principalmente com o programa Mais Médicos implementado, e aponta as expectativas para o próximo ano.
Quais são os principais problemas da saúde pública atualmente no Brasil?
Subfinanciamento, má gestão e corrupção são os três principais problemas da saúde pública no Brasil e que não são verdadeiramente enfrentados pelo governo. O Governo tem desviado o foco e quer imputar aos médicos a culpa pelo caos no sistema público de saúde. Há muito tempo, reconhecemos a insuficiência dos recursos. Em 2000, a União contribuía com 59% do total de recursos na saúde. Hoje, somente 45% (Estados e Municípios 55%). A aprovação da PEC 29, de 2000, não foi suficiente para resolver o financiamento da saúde, pois a União não participa com o que deveria. Temos muitos exemplos da gestão temerária, quando observamos a situação de hospitais federais no Rio de Janeiro (Andaraí, Ipanema, Bomsucesso, Servidores etc.), sob a responsabilidade do Ministério da Saúde, da degradante situação de pacientes em corredores e até no chão em emergências das grandes cidades, da longa fila de espera para consultas, exames, cirurgias. A corrupção no setor saúde está estampada semanalmente em nossos jornais.
O programa Mais Médicos traz soluções para esses problemas?
Não. O programa criado pelo governo, em nenhum momento, ataca os principais problemas da saúde pública. É um programa mal desenhado, que não oferece a estrutura adequada para os profissionais trabalharem e que não comprova quais deles possuem os conhecimentos e habilidades necessárias para exercer a medicina no Brasil, o que coloca em risco a saúde da população pobre, que já sofre demais sadia. Oferecer mais médicos sem organizar a gestão da saúde, de forma profissional e comprometida, não irá resolver os problemas de saúde em nosso país. É necessário aplicar os recursos nos locais adequados e da maneira correta, coibindo qualquer tipo de corrupção ou desvio de dinheiro, além de disponibilizar, no mínimo, equipamentos para exames básicos e medicamentos para que a população possa prosseguir com seus tratamentos. Além disso, é imperativo controles e avaliações sistemáticas. Infelizmente, há “viés de contaminação” de gestores do sistema de saúde público, nos três níveis (municipal, estadual e federal), misturando politicagem e visão eleitoreira, quando deveria preponderar a competência técnica.
Quais são as expectativas para a saúde no Brasil?
O acesso poderá ser ampliado nesse momento. Porém, sem qualidade a população vai sofrer muito, especialmente a mais pobre e carente, que depende exclusivamente do SUS. É também necessário investir mais em pesquisa e desenvolvimento, retirando as amarras existentes, para que o Brasil seja competitivo a nível mundial. Não vislumbramos melhorias se não acontecer aumento do financiamento, melhorias da gestão e sério combate à corrupção. Precisamos sim melhorar o acesso com qualidade. Na saúde suplementar, a ANS precisa exercer melhor seu papel e entender que o Brasil precisa conviver bem com os dois sistemas. O governo precisa se concentrar em seu verdadeiro foco como agência reguladora. Precisamos cada vez mais trabalhar com diretrizes e saúde baseada em evidências.
Fonte: AMB
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